A um Negrilho
Na terra onde nasci há um só poeta.
Os meus versos são folhas dos seus ramos.
Quando chego de longe e conversamos,
É ele que me revela o mundo visitado.
Desce a noite do céu, ergue-se a madrugada,
E a luz do sol aceso ou apagado
É nos seus olhos que se vê pousada.
Esse poeta és tu, mestre da inquietação
serrana!
Tu, imortal avena
Que harmonizas o vento e adormeces o imenso
Redil de estrelas ao luar maninho.
Tu, gigante a sonhar, bosque suspenso
Onde os pássaros e o tempo fazem ninho!
(Diário, S. Martinho de Anta, 26 de Abril de 1954)
A eufonia da linguagem torguiana permite-nos ouvir o coração da terra pulsando na semântica das palavras. Este deus do luso capitólio das letras é um poeta telúrico, identificado com a terra, definindo-se como um “geófago insaciável” (Diário, Gerês, 17 de Agosto de 1958). A terra é a fonte de onde tudo parte e onde tudo regressa, é génese e porto de viagem, princípio e fim, mãe e alimento. É esta comunhão com a terra que levam o poeta a estabelecer aqui a sua morada: “sou da terra e sou por ela” (Diário, Coimbra, 5 de Maio de 1946). E em resposta ao axioma de Jesus Cristo “o meu reino não é deste mundo” responde Torga, em sentido antagónico, a epitomisar o seu telurismo, “e o meu, precisamente, é” (Diário, Coimbra, 5 de Maio de 1946).
A caça é para Torga um ritual de comunhão com a terra. Cinegeticófilo de condição, “é na caça que a minha natureza profunda se encontra: - os olhos com a luz, o ouvido com os sons, o tacto com as coisas, o olfacto com os aromas, o sangue com o sangue” (Diário, Folgozinho, Serra da Estrela, 8 de Dezembro de 1973).
No seu telurismo, Torga afirma, convictamente, que o homem deve unir-se à Terra, ser-lhe fiel, pois para o poeta, a terra surge como a base da vida e do sentido, chegando mesmo a considerá-la como um ventre materno. Torga personifica a Terra como uma mulher disposta para a fecundação, considerando-a como um ventre materno. O sentimento de identificação com a terra projecta-se num amor pelo “reino maravilhoso” que é S. Martinho de Anta, Portugal e a Ibéria. O telurismo de Torga exprime-se no seu apego à terra, na sua fidelidade ao povo, na sua consciência de português, de ibérico, no espírito da comunhão europeia e universal.
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